INTERVENÇÃO PARA INGLÊS VER. Tirando o foco das denúncias de corrupção.

A intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro, anunciada nesta sexta 16 de fevereiro, nem começou, mas já chega suscitando desconfianças quanto a sua efetividade e reais propósitos.

Não deu certo antes. Não dará certo agora.

A presença das Forças Armadas no Rio não é uma novidade. Em 2014, o Exército, a pedido do governo estadual, passou 16 meses na favela da Maré. Um montante de bilhões de reais foram gastos nessa operação, e isso não melhorou a segurança, ao contrário. Hoje a Maré sofre com um aglomerado de traficantes e milícias. Outras ações similares se sucederam no Rio, sem sucesso no combate à criminalidade. E o fato de o comando dessa vez ser exercido por um general, em nada mudará o fato de o Exército não ser uma força preparada com a finalidade de realizar a segurança pública.

A "justificativa" que desafia a lógica.

O ministro da defesa Raul Jungmann citou como um dos motivos para a intervenção o alto índice de homicídios da cidade. Citou algo em torno de 40 homicídios por 100 mil habitantes. Ocorre que se esse fosse um parâmetro válido para esse tipo de medida, não deveria ser adotada no Rio de Janeiro. Levantamento do Mapa da Violência de 2016 aponta que, das 150 cidades mais violentas do Brasil, Mata de São João, na Bahia, é a cidade mais violenta, com a taxa média de 102,9 mortes por armas de fogo para cada 100 mil habitantes. A região Nordeste é onde está o maior número de cidades violentas, sendo que as seis primeiras posições são ocupadas por municípios nordestinos, a saber: Murici (AL), Satuba (AL), Conde (PB), Eusébio (CE) e Pilar (AL). E Alagoas é o Estado com a maior proporção de cidades entre as mais violentas do país, com 26,5% dos seus municípios no ranking. Ceará com 10,9% e Sergipe com 10,7% aparecem em seguida. Do Estado do Rio de Janeiro, apenas três cidades entraram no ranking: Paraty (60,9%, 48° lugar), Cabo Frio (59%, 55° lugar) e Mangaratiba (48,5%, 112° lugar). A capital fluminense nem sequer aparece entre as 150 cidades mais violentas do país. Logo, um critério equivocado para justificar a ação no Rio de Janeiro. Se fosse esse mesmo o critério.

Intervenção "para inglês ver".
Ironicamente, o general Walter Braga Netto, nomeado interventor da segurança pública, parece ter matado a charada quanto à real motivaçao da intervenção. A jornalistas, disse que a situação da violência no Estado "não está tão ruim", e afirmou haver "muita mídia" em cima do assunto. Talvez sem querer, o general foi preciso. É justamente disso que se trata.

A intervenção parece mais uma tentativa de tirar foco da mídia sobre as graves denúncias de corrupção que cercam o golpista Temer no inquérito que investiga a edição de decreto que beneficiaria empresas concessionárias do setor portuário no porto de Santos. Outra finalidade pode ser, com essa medida populista, buscar aumentar sua aprovação entre a camada da população conservadora que apoia intervenção militar, e buscar viabilizar um sucessor representante do golpismo nas eleições presidenciais deste ano, para ocupar o vácuo deixado pelo baixo desempenho dos partidos de direita frente ao aparentemente imbatível Lula, seja como candidato, seja como cabo eleitoral.

Mas, e o Rio nisso tudo?

O fato é que não se resolve décadas de negligência do Estado com truculência ou medidas populistas. A valorização dos policiais, o investimento pesado em inteligência, a garantia de acesso da população a educação de qualidade, a saúde, saneamento básico, urbanização, cultura e lazer, são o caminho. Além da necessidade de discussão séria sobre assuntos tabu, como a desmilitarização e a humanização das polícias, que já mostrou resultados positivos em outros países.

Por Francisco Mestre




Imagem:
Instituto Trabalhistas, sobre imagens originais de:
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Fontes:
https://exame.abril.com.br/brasil/as-150-cidades-mais-violentas-do-brasil/
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/02/16/intervencao-e-show-pirotecnico-sem-beneficios-a-seguranca-do-rio-dizem-especialistas.htm
http://brasil.estadao.com.br/noticias/rio-de-janeiro,ha-muita-midia-diz-interventor-que-vai-comandar-seguranca-do-rio,70002192234
http://amp.brasil247.com/pt/247/poder/337612/Temer-responde-hoje-sobre-porto-de-Santos,-que-pode-motivar-3%C2%AA-den%C3%BAncia
https://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-socio/o-rio-em-guerra-existe-solucao-para-a-violencia-no-brasil-1