7 mentiras que os liberais contam: 5. "A China se aproximou dos liberais".

Recentemente foi divulgado um relatório da Euromonitor International, informando que o salário médio na indústria da China triplicou em 11 anos, passando de US$1.2/hora em 2005 para US$3.6/hora em 2016. Fazendo uma comparação, no Brasil o salário médio na indústria caiu de US$2.9/hora para US$2.7/hora no mesmo período. Já o salário médio chinês, considerando todos os setores econômicos, subiu de US$1.5/hora para US$3.3/hora em 2016, valores que também ultrapassam os níveis salariais no Brasil.

O problema é que os liberais resolveram atribuir essa conquista a uma suposta aproximação da China aos ditames liberais.

Francamente, dizer que a China se aproximou do liberalismo é uma heresia em termos políticos e econômicos!

Economicamente, a China vem, desde Xiaoping em 1978, com seu "socialismo de mercado", se aproximando do capitalismo, o que não necessariamente seria uma aproximação ao liberalismo, tanto no campo conceitual, haja vista o liberalismo tratar-se de uma ideologia política, não de um sistema econômico; quanto no campo prático, das decisões políticas do governo chinês. Seguem abaixo alguns exemplos.

Como sabemos, o liberalismo defende o "Estado mínimo". Ora, qualquer pessoa, por mais leiga que seja sobre a China, sabe o quanto o Estado é forte por lá.

Os meios estratégicos de produção estão sob poder do Estado; o Estado intervém ativamente na economia, sempre visando a proteger o país contra os desmandos dos mercados (e suas consequentes crises); o solo urbano e rural não são privados, inexistindo especulação imobiliária; todos os mecanismos econômicos, como juros, crédito, sistema financeiro e câmbio, estão sob poder do Estado. Nada "liberal", não é mesmo?

E é justamente esse diferencial, esse Estado forte, socialista, quem determina as políticas do país (e não o capitalismo por si só, e muito menos o liberalismo).

Outro mantra do pensamento liberal é a defesa da "liberdade econômica" (um termo bonitinho, mas na verdade apenas um modo disfarçado de pregar o "Estado mínimo"). Só que no ranking mundial de liberdade econômica da Heritage Foundation, a China ocupa o 139° lugar, com 52,7 pontos, sendo considerado um país com "pouca liberdade". Comparando: o Brasil está no 118° lugar, com 56,6 pontos, sendo também considerado um país com "pouca liberdade", mesma classificação da China, porém numa posição mais liberal do que a chinesa. Outra evidência de que atribuir ao liberalismo o aumento salarial na China é uma falácia...

O mesmo ocorre quanto à facilidade de se abrir uma empresa (outro balisador liberal). No ranking do Banco Mundial de 2017, a China ocupa o 78° lugar, com 64.28 pontos. Um desempenho melhor que o do Brasil (123° lugar, 56.53 pontos), mas bem longe da Nova Zelândia (1° lugar, 87.01 pontos). Logo, mais uma vez o crédito ao liberalismo se mostra precipitado.

A questão, portanto, se torna clara: não é uma hipotética aproximação ao liberalismo o que determinou o aumento do salário chinês. Foram as políticas de Estado forte do PCC (Partido Comunista Chinês) as verdadeiras responsáveis pelo sucesso chinês.

A China está sob comando do PCC, partido que mantém fortes laços com os camponeses chineses. Todas as dinastias chinesas que caíram no passado, caíram pela ação do povo camponês. Lá, não é a mídia hegemônica quem convoca as manifestações que lhe convém: há consciência política e histórica na população. E o que mantém esses laços é a confiança que o povo tem no PCC. Confiança baseada nas práticas de Estado forte que orientam a economia para o bem-estar da população.

De acordo com o Dr. Elias Jabbour (FFLCH-USP), Xiaoping trouxe a premissa: "enriquecer algumas regiões para depois enriquecer todos juntos". Por quase três décadas, a China utilizou seu litoral como plataforma de acúmulo de capital e tecnologia, permitindo hoje, sob o comando do PCC, transferências de centenas de bilhões de dólares ao interior do país. Hoje, o termômetro que permite aferir a grandeza do processo em curso na China não é mais o litoral, mas o interior do país.

Se fôssemos forçar uma interpretação, a China estaria muito mais perto de se tornar um Estado social-democrata (capitalismo + Estado forte) do que do liberalismo! Mas não podemos dizer que a China esteja se tornando social-democrata, pois há questões centrais, como a proibição da propriedade privada e o totalitarismo estatal, que nos afastam das práticas do governo chinês.  Esse tipo de trapaça intelectual nós preferimos deixar para os liberais...

Por Francisco Mestre